quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Localizador pessoal via satélite: um panorama sobre radiobaliza de emergência portáteis (PLB)

Uma baliza de emergência (ou radiobaliza de emergência) nada mais é que um aparelho capaz de transmitir sua posição via rádio para uma rede de satélites, os quais retransmitem a mensagem para autoridades que irão auxiliar na busca e salvamento. Nao é exatamente um rastreador, mas um localizador.

Foto com exemplos de balizas pessoais
Os 3 modelos mais populares de localizadores pessoais

Esses equipamentos operam no âmbito do Programa Internacional COSPAS-SARSAT (site), sediado em Montreal, com a participação de dezenas de países signatários, dentre os quais o Brasil. O programa conta uma constelação de mais de 40 satélites, de várias faixas de órbita, mas os equipamentos necessitam ainda de acesso ao sistema GPS.

Logomarca COSPAS SARSAT

Na prática a coisa funciona mais ou menos assim:

FASE DE CADASTRO
  1. O usuário compra uma baliza de emergência para instalar no carro, numa embarcação, numa aeronave ou para uso pessoal.
  2. Efetua o registro do código identificador ("código hexadecimal") junto à autoridade do seu país (no Brasil, o processo é gratuito e online).
FASE DE UTILIZAÇÃO EM EMERGÊNCIA:
  1. Em caso de emergência (ameaça de morte), o usuário ativa o equipamento (alguns são automáticos).
  2. O equipamento coleta sua localização GPS (portanto é preciso estar ao ar livre).
  3. O equipamento envia seu código identificador e sua localização para a rede de satélites COSPAS-SARSAT na famosa frequência de 406Mhz.
  4. O equipamento repete os passos 2 e 3 até ser desligado ou acabar a bateria.
  5. O satélite recebe os dados e os retransmite para terminais em terra correspondentes à região do incidente. Esses terminais, por sua vez, reencaminham instantaneamente os dados para o centro de controle do país.
  6. O centro de controle possui equipes 24 horas por dia para receber o chamado e tomar providências para o resgate através dos canais competentes. 

Fase de utilização da baliza em emergência. Veja outra imagem aqui.

Conforme dito, as balizas de emergência não são propriamente dispositivos de monitoramento em tempo integral.

Além disso, sua utilização é para emergências extremas. Não é porque você acabou de se perder na trilha que irá acionar o equipamento, apesar de valer a pena estar com ele caso a situação se deteriore bastante.

As balizas de emergência, quando utilizadas em aeronaves, satisfazem o conceito de  ELT ("emergency locator transmitter"), que é um termo utilizado na aviação para designar qualquer equipamento a bordo que emita sinais de localização em situações de emergência.

Quando utilizadas em embarcações, a baliza de emergência é chamada de EPIRB ("emergency position-indicating radiobeacon station").

Foto com exemplo de baliza marinha flutuante
Modelo de baliza marinha (flutuante)

Todavia, o tema do presente artigo são as balizas de emergência portáteis, utilizadas para localização pessoal, denominadas PLB ("personal locator beacon").

A maioria das balizas de emergência pessoais, por serem portáteis, geralmente são leves (150g), a prova d'água (não flutuam) e possuem bateria interna não recarregável (mas que dura uns 5 anos).

Mas isso não é regra. Hoje, até mesmo relógios de pulso podem vir equipados com sistemas de PLB, como é o caso do Breitling Emergency.

Foto do relógio Breitling Emergency

Nos modelos PLB padrão, com bateria interna, é possível fazer testes para checar a bateria (mas um número limitado de testes!). A troca da bateria é feita por uma autorizada, sendo que no Brasil eu localizei representantes da ACR, da OceanSignal e da McMurdo.

Como eu sou envolvido com o sobrevivencialismo, resolvi comprar uma baliza. Iria servir também como um rastreador GPS pessoal na trilha (apesar de, propriamente, ser um localizador e não um rastreador).

Gostei muito da OceanSignal PLB1, por ser compacta. Mas como ela estava em falta na loja, fui na segunda opção, a Mcmurdo FastFind Ranger.


Foto autoral do FasFind Ranger

Foto do FastFind Ranger e seus acessórios

Comprei na Orbital Telecom, empresa do Reino Unido (site). Paguei R$ 598 reais no aparelho. Se puder é melhor comprar lá fora ou pedir pra alguém trazer para evitar frete e tributação.

Durante a compra, foi possível solicitar que programassem o aparelho para registro no Brasil. Conforme orienta a página do Centro Brasileiro de Controle de Missão COSPAS-SARSAT (BRMCC), órgão da Força Área Brasileira responsável pela gestão do Programa no Brasil, o código identificador registrável aqui deve se iniciar em "58" ou "D8". 

Foto do selo informando programado para Brasil

Aliás, é de suma importância ao interessado na aquisição de uma baliza de emergência pessoal a visita ao site do BRMCC: www2.fab.mil.br/brmcc. Nele, recomendo sobretudo ler a seção "Perguntas frequentes".

Lá é possível compreender, por exemplo, que caso seu PLB esteja incluído no conjunto de equipamentos de ELT (para aeronaves), a própria Força Aérea irá tomar as providências de salvamento. Para os demais casos, a baliza de emergência pessoal servirá para que a FAB acione o resgate das autoridades regionais, seja Defesa Civil, Bombeiros, Polícia, etc.

Neste ponto, gostaria de abrir um parêntese: Para atividades relacionada a trilhas, eu poderia ter optado pelo rastreador SPOT Gen3, cada vez mais popular no Brasil (conheça aqui). Pra mim, a grande vantagem do SPOT, que é um serviço privado, é permitir o monitoramento em tempo real, isto é, ele fica enviando sua posição o tempo todo. E, numa emergência repentina, nem sempre você poderá executar o acionamento do aparelho, como é preciso fazer com o PLB. A desvantagem do SPOT é o preço: o aparelho custa uns 600 reais e o serviço tem mensalidades que somam outros 600 reais por ano, sendo que uma baliza pessoal custa os mesmos 600 reais e mais nada, já que o serviço é público e gratuito. De qualquer forma, não há dúvidas de que o SPOT oferece um conjunto superior, já que sua função não é apenas localização de emergência.

Foto comparando balizas pessoais
Comparativo: 1= Spot Gen3, 4= FastFind 220. Créditos: Canoe & Kayak.

Continuando, para registrar o PLB, temos que nos dirigir ao site do sistema INFORSAR, efetuar o cadastro pessoal (dados básicos) e, em seguida, efetuar o cadastro da baliza de emergência.

Captura de tela com site do INFORSAR

O sistema é muito prático e fácil de usar. Serão perguntados dados da baliza de emergência. Esses dados constam na caixa do aparelho, em especial o código identificador (código "hexadecimal"), que deve começar com "58" ou "D8" para poder ser registrado no país. 

Assim que digitei o código, o formulário automaticamente preencheu fabricante, modelo, etc. 

Após a conclusão do formulário, o processo é encaminhado para análise e em poucos dias será recebido um e-mail com o resultado:

Captura de tela com e-mail do INFORSAR

Tive uma impressão de segurança e profissionalismo dos agentes envolvidos, desde a compra até o registro. É claro que espero jamais ter que usar os serviços do Programa COSPAS-SARSAT, mas fica aí a dica para os interessados em ter essa garantia.

Obrigado pela visita e até a próxima!


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